Artigo de Lúcio Meneses de Almeida, Coordenador do Grupo de Trabalho One Health
"Finalidade: apresentar as atividades desenvolvidas por este grupo de trabalho, criado em junho de 2024, abordando especificamente a One Health em contexto arquipelágico
Grupo multiespecialidades, coordenado por um médico de Saúde Pública. Assessora o Bastonário e o Conselho Nacional na área da One Health.
A One Health remonta ao século XIX, com Rudolf Virchow (1821-1902) que enunciou o conceito de zoonose, tendo referido, literalmente, que não é possível separar a medicina humana da medicina veterinária: "o objeto é diferente, mas a experiência obtida constitui a base de toda a Medicina".
O conceito de One Medicine, originalmente atribuído a William Osler (1849-1919), foi consagrado pelo médico veterinário Calvin Schwabe (1927-2006) na sua obra "Veterinary Medicine and Human Health" (1964). Enquanto professor de epidemiologia veterinária, é-lhe igualmente atribuído o conceito de One Health (saúde una e tridimensional).
A One Health está estreitamente relacionada com a Saúde Planetária, que vê o planeta como a nossa casa comum, sendo os seus residentes a população mundial. A saúde do planeta influencia a saúde de quem lá vive (de referir que a OMS considera a poluição ambiental como a maior ameaça à saúde da população mundial).
O contexto insular e arquipelágico tem particularidades únicas que permitem assumir-se como a linha da frente do estudo e intervenção em One Health: diversidade e interconectividade ecossistémicas (desde logo, ecossistemas terrestre e marinho) e exiguidade territorial e populacional. Por outro lado, as ilhas e arquipélagos são mais suscetíveis às alterações climáticas.
A realidade nacional é inequívoca: somos um país oceânico (por cada quilómetro quadrado de território temos 19 Km2 de Zona Económica Exclusiva) e, no caso da RA dos Açores, essa razão é de 1 para 405 (na RA da Madeira é de 1 para 562). Exemplos internacionais, como o projeto decorrido de março de 2014 a junho de 2017, nas Caraíbas, sob financiamento da União Europeia ("One Health, One Caribbean, One Love"), são a prova de que é possível passar o conceito à prática, obtendo resultados concretos. Sendo uma abordagem de Saúde Pública ("whole-of-society"), a One Health requer uma coordenação interssistémica e intersectorial facilitada por governos de proximidade (governos regionais).
Em suma: os arquipélagos dos Açores e da Madeira podem - e devem - assumir-se como sentinelas e linha da frente da One Health nacional, a bem da Saúde Global."
O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, também participou.
Consulte o discurso da sua intervenção aqui.